crise de adeus



Despedidas doem.
Às vezes
a dor é tão profunda
que ficamos à deriva
por medo 
de perder a superfície

Despedidas machucam.
Por vezes
a ferida é tão bastante
que trocamos a dor
pela coragem de nos controverter

Despedidas nos matam
um pouco
a cada pouco
que nelas mergulhamos

E se se repetem 
é que já nos afogamos
no definitivo adeus


pas de deux


na dança das nuvens
te recebo galáctico
navegando minha boca

como se fossem eternos
nossos beijos elétricos

na dança do desejo
te recebo fálico
avermelhando meus sinais

como se fosse cálice
bêbado do teu vinho

e ao som de blues
embriagamos amor
eletrizando nossa taça


passado


quando ia tatuar o amor
com o vermelho
do meu cio
a vida deu-me
uma chave de pernas

(e o tempo da flor
virou pretérito imperfeito)

fuga


pedem para eu ir
quero voltar

ou nem isso

quero fugir das amarras
de onipresença
e embarcar olhos
na polissemia da língua

enrabichar coração
numa laçada sem nó
e embrulhar a vontade

num rio de preguiça

só não quero ter
que ir
que vir
que ser

dissonância


sobras de estrelas
nas mãos
fios de Ariadne
nos pés

e a razão
desligando
o fascínio
do labirinto

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