TPM emocional

Era uma festa barulhenta, cheia de gentes bonitas e mil perfumes dançando no ar. Eu, enfastiada. De cheiros e de indolências. Estava em TPM emocional. No dia seguinte jorraria meu sangue na busca de uma assinatura. Selaria o destino do meu futuro profissional. Só conseguia ser chatice e ansiedade.

Ele chegou desajeitado - daquele jeito de quase pedindo desculpas por existir. Olhei-o sem vontade. Descartei-o sem perdão. E continuei ausente de tudo e de todos. Insistente, ele se fez presença. Com voz gaguejante fez uma pergunta. Não ouvi. Não quis. Era uma crueldade este ignorar – acusou a voz da minha criação judaico-cristã. Parei pra senti-lo. Ele tinha olhos de solidão. Olhei de novo. A palidez dele me atingiu. Algo em mim se confrangeu. Cedi.

No fim das contas, eu soube: ele era viúvo. Carregava o fardo de um passado interrompido, de um amor dilacerado em definitivo. E só queria tirar os sapatos e ter quem juntasse os pés aos seus. E tomar vinho nas noites de inverno com um corpo quente a marcar o colchão. Mas não sabia mais investir. Nem se travestir de pavão para agradar as mulheres cada vez mais exigentes. Era um ex-amante que se esquecera na eternidade do amor. E agora estava ali, buscando na sorte a sua atualização. Encontrou a mim. Em TPM emocional, mas sempre fêmea – para o bem ou para o mal.

Deixei-o com pesar. Ele ficou com olhos um pouco mais brilhantes. Eu, de alma grata. Descobri: nem sempre era preciso endurecer. Às vezes faz bem estremecer a emoção com dores desconhecidas. E puxar pra cima a esperança de quem se esqueceu de como enrubescer o coração.

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