Ler e Escrever: Transformação

Dizem que escrever é uma arte. Pode ser. Para mim é um desafio que se renova a cada manhã. Porque quero escrever e ser lida. Lida por leitores que têm à sua disposição grandes mestres da literatura e vivem num tempo em que a comunicação ganha agilidade com a tecnologia e onde imagens substituem letras.

Sempre adorei escrever. Tenho para mim que nasci escrevendo, tal é a necessidade que tenho de juntar letras. O que já escrevi nesta vida daria para editar uma estante cheia de livros – se quantidade fosse qualidade, é claro. Pois bem, descobri que, por melhor que eu escreva, nunca serei lida como quero. E não é porque eu escreva tão mal assim. É porque tem uma doença grave e crônica no brasileiro que impede que eu seja lida. Doença esta que é combatida por mim, educadora, mas que vive também em mim, leitora. Preguiça! Isso mesmo, temos preguiça de ler.

Quando eu era professora de ensino fundamental, vivia brigando com minha criatividade para criar o hábito de leitura nos meus alunos. E por mais que eu criasse motivações, a leitura deles nunca alcançava o nível que eu achava satisfatório. Não desisti, mas também não consegui.

Um dia, lendo uma entrevista de Foucault ao Le Monde, comecei a entender esta relação escritor-leitor. E comecei a perceber, até mesmo em mim, a preguiça que todos temos de nos entregarmos a uma leitura. Esta preguiça não é privilégio do brasileiro, mas aqui ela parece ser imensurável - como alguns outros defeitos tão nossos conhecidos e tão inteiramente tupiniquins.

Comecei então a me preocupar mais com a minha escrita. Já não seria suficiente ter clareza, ter boa argumentação e abordar temas interessantes. Seria preciso levar em consideração a preguiça. Esta mesma preguiça que me fazia ler um texto em diagonal, perdendo muitas vezes a mensagem implícita e, de certa forma, desvalorizando o trabalho de quem escreveu. Seria preciso aprender a arte da síntese: escrever da forma mais interessante possível, com um menor número de letras possível.

Embora para muitos e importantes escritores não seja fundamental a opinião do leitor, a mim parece imprescindível ter uma mensagem escrita decodificada por quem me lê. Porque uma escrita, seja ela qual for, só tem sentido se alcança quem a lê. Passei então a escrever para o meu leitor, respeitando a sua preguiça, mas tentando criar nele a vontade de continuar lendo. É claro que nem sempre consigo. (Especialmente quando o que escrevo parece não ter interesse nem mesmo para mim.) Mas é preciso continuar tentando. Porque escrever e ler são atos que interagem entre si e é condição para o pensar, o crescer, o transformar.

Continuemos, pois, escrevendo, lendo, interagindo. E nos transformando através da escrita e da leitura.

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